segunda-feira, 12 de julho de 2010

O COMER E O BEBER


"Então, um velho estalajadeiro disse:
“Fala-nos do comer e do beber.”
E ele respondeu:
“Pudésseis viver do perfume da terra e, como uma planta, nutrir-vos de luz.
Mas, já que deveis matar para comer e roubar do recém-nascido o leite de sua mãe para saciar vossa sede, fazei disso um ato de adoração.
E que vossa mesa seja um altar onde os puros e os inocentes da floresta e da planície são sacrificados àquilo que é ainda mais puro e mais inocente no homem.
Quando matardes um animal, dizei-lhe no vosso coração:
‘Pelo mesmo poder que te imola, eu também serei imolado, e eu também servirei de alimento para outros; pois a lei que te entregou às minhas mãos me entregará a mãos mais poderosas.
Teu sangue e meu sangue nada são senão a seiva que nutre a árove do céu.’
E quando morderdes uma maçã, dizei-lhe no vosso coração:
‘Tuas sementes viveerão no meu corpo, e os brotos de teus amanhãs florescerão no meu coração, e teu perfume será meu hálito, e, juntos, regozijar-nos-emos em todas as estações.’
E no outono, quando colherdes a uva de vossos vinhedos para o lagar, dizei-lhe no vosso coração:
‘Eu também sou um vinhedo, e minha fruta será recolhida para o lagar, e, como um vinho novo, serei guardado em vasos eternos.’
E no inverno, quando beberdes o vinho, que haja no vosso coração uma canção para cada taça, e que haja na canção um pensamento para os dias do outono, para o vinhedo e para o lagar."

Gibran Khalil Gibran - O Profeta

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